Celulite: Qual a importância de trabalhar a fáscia para tratamento?
A celulite, clinicamente denominada lipodistrofia ginóide, representa uma dermatopatia que se manifesta por alterações topográficas da derme, prevalente majoritariamente no sexo feminino após a puberdade. Esta condição é caracterizada pela presença de nodulações e ondulações na superfície cutânea, frequentemente localizadas em regiões com acúmulo adiposo substancial, como coxas, glúteos e quadris. Estas alterações conferem à pele um aspecto de “colchão”, “queijo cottage” ou “casca de laranja”, termos que descrevem a aparência típica da celulite sob a perspectiva clínica.
A etiologia da celulite é considerada multifatorial, envolvendo mecanismos complexos ainda não totalmente elucidados, o que contribui para a dificuldade em estabelecer uma terapêutica definitiva e eficaz. As abordagens de tratamento variam desde procedimentos não invasivos até técnicas minimamente invasivas, sendo que a eficácia dessas intervenções tende a ser variável e frequentemente de caráter temporário. Apesar dos avanços no desenvolvimento de novas modalidades terapêuticas, a gestão da celulite continua a ser um desafio clínico significativo.
Além das implicações estéticas, a celulite está associada a consequências psicossociais adversas, incluindo insatisfação corporal, sofrimento emocional, ansiedade e redução na qualidade de vida, fatores que motivam a busca por tratamentos efetivos. Em 2021, foram registrados mais de 86.000 procedimentos minimamente invasivos para o tratamento de celulite realizados por membros da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos Estéticos, evidenciando a alta demanda por soluções terapêuticas.
Epidemiologia da Celulite
A epidemiologia da celulite, incluindo sua prevalência, incidência e fatores de risco, permanece insuficientemente caracterizada devido à limitação dos estudos epidemiológicos disponíveis. Apesar desta lacuna de conhecimento, é reconhecido na literatura científica que aproximadamente 80% a 90% das mulheres pós-púberes são afetadas por essa condição dermatológica. A celulite transpõe barreiras raciais e étnicas, impactando mulheres de diversas origens, embora haja evidências de que mulheres de descendência caucasiana possam ser mais predispostas do que aquelas de origem asiática ou afro-americana. A idade de manifestação da celulite varia, não havendo um limiar específico para o seu desenvolvimento, porém é mais comumente observada entre os 20 e 30 anos.
A incidência em homens é consideravelmente baixa, estimada em aproximadamente 2%, muitas vezes associada a condições de deficiência androgênica como hipogonadismo, síndrome de Klinefelter, ou como efeito secundário de tratamentos para câncer de próstata que envolvem terapias com estrogênio ou antiandrogênios.
Etiopatogenia da Celulite
A etiopatogenia da celulite, incluindo suas bases fisiopatológicas, ainda não foi completamente elucidada. Contudo, análises anatômicas de cadáveres revelaram insights importantes, sugerindo que a celulite pode ser entendida como um distúrbio arquitetônico que envolve a derme e o tecido subcutâneo adjacente.
No tecido subcutâneo da região glútea, frequentemente afetada pela celulite, identifica-se a presença de cinco camadas distintas (derme, camada adiposa superficial, fáscia superficial, camada adiposa profunda, e fáscia profunda) e dois tipos de septos fibrosos (septos curtos e finos e septos longos e grossos). Esses septos desempenham papéis fundamentais na estruturação do tecido, conectando a fáscia à derme. Os lóbulos de gordura, arranjados em uma configuração reminiscente de um favo de mel, são encapsulados por tecido conjuntivo fibroso que interage com esses septos.
Um incremento no Índice de Massa Corporal (IMC) é correlacionado com o aumento da espessura das camadas adiposas, tanto superficial quanto profunda, sugerindo uma relação entre o acúmulo de gordura e a manifestação da celulite. A hipótese do distúrbio arquitetônico sugere que um desequilíbrio nas forças biomecânicas exercidas pelos septos e camadas adiposas, junto à resistência oferecida pela derme, contribui para o aparecimento das características covinhas da celulite.
A raridade da celulite em homens pode ser explicada por diferenças dimórficas significativas na arquitetura dos septos fibrosos e das camadas adiposas. Em comparação com as mulheres, os homens possuem um número maior de septos, que são orientados de maneira diversa e possuem maior estabilidade, além de uma distribuição diferenciada dos lóbulos de gordura, fatores que juntos reduzem a predisposição ao desenvolvimento de celulite.
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