Fáscia profunda e músculos da cabeça e pescoço

O tecido conjuntivo destinado à ossificação, musculatura e fáscia de movimentação da porção anterior cervical e facial origina-se das células mesenquimais provenientes da crista neural craniana [24] (Figura​(Figura 3).3). Estas células direcionam-se anteriormente em resposta ao desenvolvimento dos arcos branquiais. A diferenciação da endoderme do primórdio intestinal promove a liberação de fatores genéticos essenciais para tal migração celular mesenquimal craniana [25]. Consequentemente, o tecido conjuntivo desta área é composto por células ectodérmicas, em contraste com a predominância mesodérmica observada no restante do organismo. A rápida proliferação do intestino anterior (endoderme) acarreta um significativo aumento da demanda metabólica na região cranial, resultando na reorganização da artéria aorta dorsal e formação das artérias faríngeas. Paralelamente à nutrição tecidual, estas artérias restringem o crescimento tecidual ao não acompanharem o desenvolvimento acelerado [10]. Essa dinâmica culmina na formação dos arcos branquiais, segmentações do trato digestivo endodérmico cranial e mesoderma adjacente [26]. O primeiro arco branquial manifesta-se aproximadamente ao vigésimo dia gestacional [9], sob influência do processo de cefalização e da primeira dobra embrionária. Segundo Blechschmidt e Gasser, essa formação é condicionada tanto pelo desenvolvimento ectodérmico craniano quanto pela evolução do primórdio intestinal [10]. Em nível ósseo, contribui para a formação da maxila, mandíbula, osso zigomático, porção do osso temporal e, na região do canal auditivo externo, o martelo e a bigorna. Origina, ademais, a musculatura mastigatória e as fáscias profundas associadas: temporal profundo, masseter, pterigoideo lateral e medial. O quinto par craniano, trigêmeo, é responsável pela inervação das estruturas derivadas do primeiro arco branquial [15]. Os subsequentes arcos branquiais evoluem primariamente devido ao crescimento do trato digestivo, com o segundo arco dando origem à musculatura facial mimética e suas fáscias. Anatomicamente, na face, não é possível distinguir entre fáscias superficiais e profundas. O segundo arco também contribui para o desenvolvimento do corpo e processo inferior do osso hióide e, no ouvido externo, o ossículo do estribo. Os seios faciais e amígdalas emergem das dobras e espaços entre o primeiro e segundo arcos. As estruturas derivadas do segundo arco recebem inervação do sétimo nervo facial craniano.

 

O terceiro arco branquial é precursor do músculo constritor superior da faringe e parte da fáscia bucofaríngea, com inervação proveniente do nervo glossofaríngeo, nono par [10]. Este arco também dá origem à artéria carótida interna. O saco faríngeo deste arco é responsável pela formação do timo e da porção inferior das glândulas paratireoides.

 

O desenvolvimento do quarto arco branquial contribui para a formação da cartilagem cricoide, tireoide, arco aórtico, artéria subclávia direita, musculatura laríngea, e a parte superior das glândulas paratireoides. Estruturas como o palato mole, epiglote, úvula, fáscias faríngeas, parte superior do trato digestivo e respiratório, parte do esterno e canal auditivo estão sob inervação do décimo par craniano, o nervo vago.

 

O quinto arco branquial regride ao longo do desenvolvimento embrionário [18]. A existência e relevância do sexto arco branquial é tema de debate na literatura especializada, sendo por alguns considerado uma extensão do quarto arco. Ele participa na formação dos músculos faríngeos médio e inferior e suas fáscias correspondentes, além dos músculos laríngeos. A

musculatura do trapézio e do esternocleidomastoideo (ECM) parece estar relacionada ao desenvolvimento deste arco faríngeo e aos somitos occipitais. Estas estruturas recebem inervação pelo nervo acessório, décimo primeiro par craniano. A língua, por sua complexidade estrutural, tem sua formação derivada dos quatro primeiros arcos faríngeos, com a musculatura oriunda dos somitos occipitais, sendo descrita de maneira distinta devido à sua complexidade embrionária.

Na região cervical anterior, as fáscias de movimentação e os músculos desenvolvem-se sob influência marcante da evolução do tubo digestivo e dos arcos faríngeos, exibindo continuidade com as fáscias viscerais. Este fenômeno é exemplificado pela camada média da fáscia cervical profunda, que circunda os músculos infra-hióideos, além de envolver estruturas como a traqueia, tireoide, paratireoide, formando ainda os ligamentos suspensórios da pleura e do pericárdio (Figura​(Figura 33). Este intricado desenvolvimento embriológico revela a interconexão profunda entre as estruturas da região cervical anterior e facial, enfatizando a importância de um entendimento abrangente da fáscia e das estruturas associadas no que tange à sua formação, função e relevância clínica.

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