Reflexões sobre o Sistema Fascial

O sistema fascial é reconhecido como o conjunto de tecidos conjuntivos que envolve e separa a musculatura, desempenhando um papel crucial na estrutura e função do corpo humano. Em uma definição consolidada pelo Comitê de Nomenclatura da Fáscia em 2014, o sistema fascial é composto por uma vasta gama de componentes, incluindo tecido adiposo, adventícia, bainhas neurovasculares, aponeuroses, fáscias profundas e superficiais, derme, epineuro, cápsulas articulares, ligamentos, membranas, meninges, expansões miofasciais, periósteo, retináculos, septos, tendões (abrangendo endotendão, peritendão, epitendão e paratendão), fáscias viscerais, bem como todos os tecidos conjuntivos presentes nos interstícios musculares.

Diversas organizações, desde 1988 até 2011, como a Organização de Terminologia Anatômica, o Comitê Federativo de Terminologia Anatômica (FCAT) e o Programa Internacional Federativo de Terminologias Anatômicas (FIPAT), têm oferecido definições semelhantes de tecido fascial. Este é descrito genericamente como uma bainha, lençol ou qualquer agregado de tecido conjuntivo dissecável localizado sob a pele que serve para fixar, envolver e separar músculos e outros órgãos internos. Este entendimento da fáscia, que se cristalizou na literatura científica do último século, influencia até hoje a percepção da fáscia como uma estrutura arquitetônica integral. No entanto, uma lacuna em muitas descrições é a falta de consideração pela origem embriológica da fáscia. Estudos anteriores, apoiados pela Fundação de Pesquisa Osteopática e Endosso Clínico (FORCE), destacam que o tecido fascial do crânio e parte do pescoço tem origem embriológica dual, envolvendo tanto o mesoderma quanto o ectoderma.

A complexidade da fáscia é aumentada quando se considera que tecidos equivalentes no organismo podem ter origens embriológicas diversas. Por exemplo, as meninges, parte do sistema fascial, derivam tanto do mesoderma quanto do ectoderma. A origem embriológica diversificada dos tecidos fasciais levanta questões sobre como seus limites são definidos com precisão, especialmente no que diz respeito à musculatura e ao tecido conjuntivo da área crânio-cervical, onde músculos derivados do mesoderma interagem com tecidos conjuntivos de origem ectodérmica.

A concepção de fáscia transcende a simples classificação de tecido conjuntivo, abrangendo qualquer tecido capaz de responder a estímulos mecânicos. O continuum fascial representa a integração de tecidos, líquidos e sólidos em uma sinergia que sustenta, divide, penetra, nutre e conecta todas as regiões do corpo, da epiderme ao osso, englobando todas as suas funções e estruturas. Este continuum facilita a transmissão e recepção de informações mecanometabólicas, influenciando a morfologia e a fisiologia corporal. Dessa forma, tecidos anteriormente não considerados parte da fáscia, incluindo a epiderme, derme, gordura, sangue, linfa, vasos linfáticos, tecido cobrindo filamentos nervosos, fibras musculares estriadas voluntárias, ligamentos, tendões, aponeuroses, cartilagem, ossos, meninges e língua, devem ser incluídos na definição de fáscia.

Para uma classificação precisa da fáscia, é essencial uma nomenclatura anatômica que leve em consideração tanto a fisiologia quanto a embriologia do tecido. A mudança na nomenclatura, contudo, não é o único requisito; é igualmente crucial entender as funções anatômicas autênticas e os limites da fáscia. A incorporação das origens embriológicas na classificação dos tecidos é fundamental, exigindo mais pesquisas para estabelecer uma classificação da fáscia base

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