Descubra a Fascinante Rede da Fáscia
Introdução
Bem-vindos, alunos da Academia de Tração Cíclica da Fáscia! Hoje, vamos explorar a incrível e complexa rede da fáscia no corpo humano. Esse tecido viscoelástico, que forma uma matriz tridimensional de colágeno, envolve e penetra todas as estruturas do corpo, estendendo-se da cabeça aos pés. Vamos desvendar os mistérios da fáscia, entender sua nomenclatura e discutir os avanços na pesquisa que estão moldando nosso conhecimento sobre esse tecido vital.
O Que é Fáscia?
A fáscia é um tecido conectivo contínuo que forma uma matriz tridimensional de colágeno no corpo humano.1-3 Essa rede ininterrupta envolve e penetra todas as estruturas do corpo, desde músculos e ossos até órgãos e vasos sanguíneos. Sua natureza contínua torna difícil isolá-la e desenvolver uma nomenclatura precisa.1
Desafios na Nomenclatura da Fáscia
O Comitê Internacional Federativo de Terminologia Anatômica (FICAT) reconheceu, na edição de 1998 da Terminologia Anatomica, falhas significativas no sistema de nomenclatura para a fáscia. Essas falhas decorrem, em grande parte, da natureza anglocêntrica dos termos usados e da falta de aplicabilidade internacional formal.4 O FICAT considera incorretos os termos “fáscia superficial” e “fáscia profunda” porque a terminologia histológica referente às camadas do tecido conjuntivo varia muito internacionalmente.4
Além disso, nomes comuns de certas fáscias, como Scarpa, Camper e Colles, são considerados imprecisos. Sugere-se que esses termos sejam substituídos por “tecido subcutâneo da camada membranosa do abdômen”, “tecido subcutâneo da camada gordurosa do abdômen” e “camada membranosa do períneo”, respectivamente.4 A Terminologia Anatomica tenta agrupar várias fáscias com base em origens embriológicas e modos de desenvolvimento, mas faltam detalhes claros sobre esses agrupamentos, dificultando a organização e uso adequado dos termos fasciais na pesquisa, educação e prática clínica.
Avanços na Pesquisa e Terminologia
Recentes avanços na pesquisa em biomecânica, anatomia macroscópica e histologia oferecem uma oportunidade para melhorar a terminologia associada à fáscia, aprimorando assim as comunicações intra e interprofissionais.5, 8-10 No entanto, ainda existem discrepâncias quanto à definição oficial, terminologia, classificação e significado clínico da fáscia.5-6
O FICAT define amplamente a fáscia como bainhas, folhas ou outras agregações dissecáveis de tecido conjuntivo. O Primeiro Congresso Internacional de Pesquisa sobre Fáscia (2007) formulou uma definição abrangente, descrevendo a fáscia como o componente de tecido mole do sistema de tecido conjuntivo, enfatizando suas extensões ininterruptas e tridimensionais semelhantes a teias.1, 4 O Congresso incluiu cápsulas articulares e de órgãos, septos musculares, ligamentos, retináculos, aponeuroses, tendões, miofáscia, neurofáscia e outros tecidos fibrosos colágenos como formas de fáscia, inseparáveis dos tecidos conjuntivos circundantes.1
Desafios na Classificação da Fáscia
Apesar dessas definições abrangentes, a amplitude das mesmas é controversa, e nem todos os tecidos foram amplamente aceitos no uso comum. Uma terminologia consistente para classificar e categorizar a fáscia não foi formalmente estabelecida e aceita internacionalmente.5-6 A abordagem do livro didático de Gray para nomear a fáscia regionalmente com base nas estruturas adjacentes ou sobrepostas é prática, mas sugere que a fáscia tem um começo e um fim, o que não é fiel à sua natureza contínua.11-12 Portanto, a abordagem topográfica é importante para identificar a fáscia regional, mas não é usada consistentemente na prática internacional e não ajuda a descrever o papel funcional da fáscia.
Ontologias Recentes e a Função da Fáscia
Uma ontologia mais recente destaca a importância de duas formas funcionais de fáscia: conectiva e desconectiva. Essas categorias são baseadas na orientação das fibras e no papel da fáscia na propriocepção.7 Há um corpo de trabalho demonstrando que quantidades significativas de força são transmitidas entre múltiplos grupos musculares antagonistas e sinérgicos através das cápsulas articulares por meio de várias seções da fáscia extra e intramuscular.7-8, 13-15
Embora essas ontologias representem um avanço na classificação, as complexidades da fáscia tornam necessário expandir as categorias de fáscia conectiva e desconectiva para descrever melhor todos os grupos de fáscia de acordo com seus atributos.7 Esses atributos adicionais incluem a proporção do tipo de colágeno, proteínas da matriz extracelular, tipos de fibras nervosas, potencial de transmissão de força miofascial, detalhes sobre a orientação das fibras e influência no sistema circulatório.8, 16-21
A Importância da Terminologia Consistente
A falta de terminologia consistente tem um efeito negativo na comunicação dentro das profissões de saúde e impede colaborações em pesquisa.22 Como a fáscia é um tópico de interesse crescente em todo o mundo, reduzir a ambiguidade em termos fundamentais deve ser uma prioridade para que esse campo de pesquisa possa avançar adequadamente. Por exemplo, a falta de definições e nomenclatura comuns dificulta a comunicação entre os envolvidos no processo de diagnóstico e tratamento de patologias pélvicas na prática diária.23
Um estudo revelou isso ao comparar os termos não oficiais/comuns usados no campo e os termos fornecidos pela Terminologia Anatomica, demonstrando como este texto pode ser usado para melhorar a consistência na nomenclatura. Embora aceitemos a validade de uma abordagem topográfica na nomeação da fáscia, ela não leva em consideração o fato de que a fáscia não tem um começo e um fim como o músculo, nem uma abordagem topográfica leva em conta as características microscópicas da fáscia ou a diversidade de suas características funcionais.5-7, 12
Conclusão
A fáscia é um tecido vital e multifacetado que desempenha um papel crucial no funcionamento do corpo humano. Apesar dos desafios na nomenclatura e classificação, avanços recentes na pesquisa estão nos ajudando a entender melhor suas funções e características. Como alunos da Academia de Tração Cíclica da Fáscia, é essencial que vocês compreendam esses conceitos e contribuam para o desenvolvimento de uma terminologia mais consistente e funcional.
Explorar a fáscia é desvendar um mundo complexo e fascinante de interações teciduais e funcionais. Continuem a estudar, questionar e inovar, pois a pesquisa sobre a fáscia está apenas começando a revelar todo o seu potencial. Juntos, podemos avançar nesse campo e melhorar a saúde e o bem-estar através de um entendimento mais profundo e preciso desse tecido extraordinário.
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